Doenças mentais recebem apenas 3% do orçamento de Saúde
Em Portugal, apenas 3% do orçamento total de saúde é direccionado para a área das doenças mentais. O baixo investimento destinado ao tratamento das perturbações psiquiátricas contrasta com a restante realidade europeia, em que a aposta é significativamente maior.
No casos dos Países Escandinavos, por exemplo, 10% das verbas do orçamento da saúde são canalizadas para as patologias mentais. A escassez condiciona o apoio prestado, um facto que adquire particular importância uma vez que a tendência actual vai no sentido do aumento do número de casos de doenças mentais, devido a factores como o incremento do consumo de drogas e a crise financeira.
Estas são algumas das conclusões de uma sessão de esclarecimento sobre doenças mentais, em que participaram: Professora Maria Luísa Figueira, Chefe de Serviço de Psiquiatria do Hospital Santa Maria, Dr. José Manuel Jara, Director de Serviço de Psiquiatria do Hospital Júlio de Matos, e Delfim Oliveira, doente bipolar e Presidente da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares. O estigma associado às perturbações mentais, importância do tratamento adequado e contínuo e apoio psico-educacional da sociedade foram algumas das questões abordadas no encontro.
"Os doentes mentais continuam a ser alvo de preconceito por parte da comunidade, o que tem graves repercussões na sua vida e, consequentemente, na recuperação e reintegração". A ideia pré-concebida que "estas patologias não têm tratamento, as pessoas com doenças mentais são agressivas ou que só existe um tipo de doença mental" são alguns dos estigmas normalmente associadas a este tema, explica a Professora Maria Luísa Figueira.
Para o Dr. José Jara, a importância da medicação no processo de reabilitação é um factor-chave: "É fundamental que se comece a tratar este tipo de patologias logo de início. Muitos dos efeitos destas doenças são reversíveis com medicação apropriada. Além disso, a tendência é os doentes interromperem a medicação quando começam a sentir-se melhor. Nada mais errado, pois só vão agravar a doença".
Em Portugal, estima-se que 100 mil pessoas sofram de esquizofrenia e 200 mil de distúrbio bipolar. A depressão é a patologia mais frequente entre mulheres, afectando cerca de 10% a 25%, o dobro comparativamente aos homens. Segundo os especialistas, uma em cada cinco pessoas pode vir a sofrer de doença mental. Sinais como alterações de sono, falta de apetite, ansiedade excessiva ou oscilações de humor podem indicar perturbações mentais.